Livro de Resenhas | Veio ler? Não se contenha

sábado, 25 de julho de 2015

O Renascer do Outono - IV - Vaughan - Um romance perdido

Olá novamente, pessoas! Mais um capítulo do livro, este, continuação do prólogo, que alguns estavam procurando ligação com a história.






IV – Vaughan – Um romance perdido


Acordei nos braços de George, que estava dormindo, apoiado à parede de um túnel.
   - George? O que fez comigo? – O acordei, perguntando.
   - Apenas segui ordens de sua mãe, doce Vaughan – disse ele, enquanto acariciava meu rosto.
   - Tire suas mãos de mim! Podemos estar comprometidos, mas ainda não somos um casal, portanto, comporte-se! – Gritei.
   - Tudo bem, desculpe-me, senhorita difícil – debochou.
   - Oh, não! Esqueci-me do bilhete que estava no trono!
   - Você quis dizer – George puxou de seu bolso um pedaço de papel – esse bilhete?
   - Isso! Dê-me aqui – estiquei a mão para pegar.
   - Opa! – George afastou o braço, para que eu não o alcançasse. – Antes, desejo uma recompensa – ele aproximou seu rosto ao meu.
   - Tome sua recompensa – estapeei seu rosto e peguei o papel.
   Ao abri-lo, percebi que era a letra de minha mãe.

Prezada Vaughan
Faz pouco tempo, que começamos a sofrer com ameaças de povos estranhos. Não pensei que nos atacariam inesperadamente, por isso, estou indo para o campo de batalha. Quero que você fuja e fique salva, afinal, não queremos que nossa raça morra. Os Ormit devem sobreviver. Ricky está a sua espera na entrada do túnel. Seja extremamente cuidadosa ao escolher a saída. Boa sorte, filha. Que os deuses estejam contigo.
Kathleen Marjoriet.

   - Temos que voltar para ajudar a mamãe e a cidade. Eles correm perigo! – Gritei, levantando-me, procurando a saída.
   - Tenho ordens para não lhe deixar ir, de forma alguma. Além disso, sem seus poderes, não conseguirá sair desse lugar.
   - Poderes? Mas que poderes são esses? – Perguntei.
   - Isso você terá de descobrir sozinha. Estou aqui apenas para lhe proteger de uma decisão errada e lhe ensinar o básico para sobreviver.
   Aquela conversa sobre poderes me deixou empolgada, ao ponto de esquecer minha mãe e toda a cidade.
   - Não está com fome? – Perguntou George.
   - Agora que falou, estou sim – meu estômago estava roncando desde que havia acordado.
   - Preste bastante atenção. Pegue cinco pedras de mesmo tamanho. Não procure muito longe e nem tente fugir daqui.
   - Estou indo! – Corri para os cantos do lugar e consegui achar todas as pedras. – Estão aqui!
   - Ótimo. Desenhe, agora, um pentagrama.
   - Penta... o quê?
   - Haja paciência. Nisso que dá esconder de você os poderes. Desenhe um círculo e, dentro dele, um pentágono e ligue as intersecções formando uma estrela. Em cada uma das intersecções, você colocará uma pedra.
   Desenhei, delicadamente, o círculo, para que ficasse perfeito. Contudo, não sabia o que era um pentágono e, mais uma vez, tive que pedir ajuda a George. Ele se aproximou e, com seu corpo encostado ao meu, segurou minha mão e o desenhou. Logo após, coloquei as pedras.
   - Agora coloque sua mão direita aqui e pense no que gostaria de comer – George apontou para o centro do pentagrama.
   Ao colocar a mão no pentagrama, este começou a brilhar intensamente, iluminando todo o lugar. Pude perceber que estávamos num túnel amplo, com três saídas. Sendo elas à esquerda, acima e à direita.
   - Concentre-se aqui, ou não fará com que surja nada.
   Voltei-me novamente para o pentagrama, notei que algo embaixo de minha mão estava se materializando, empurrando-a. Ao tirar a mão, vi que eram duas maçãs.
   - Ora, mas é somente isso que consegue invocar? Ponha mais poder nisso, veja – George pôs a mão no centro do pentagrama.
   Dessa vez, o brilho foi tão intenso, que não consegui enxergar por alguns segundos. Quando abri os olhos, havia uma mesa, empanturrada de comidas e bebidas. Em contrapartida, George estava fraco e pálido, quase perdendo a consciência.
   - Acorde! Não durma Ricky! – Gritei, tentando acordá-lo aos tapas.
   - Ricky? Então está começando a lembrar... – Pensou George.
   - Oh, perdão. George!
   - Não tem problema, pode se dirigir a mim como quiser. Enfim, vamos comer! – Disse ele, levantando-se e me erguendo.
   Após comer alguns sanduíches, eu estava farta. Todavia, George continuava a comer. Ele deve estar bem fraco, para comer dessa forma. Sua palidez de repente começou a sumir. Quando saciou sua fome, deu-me um sinal, mostrando que era hora de ir.
   - Desculpe a demora, mi Lady. Vamos – George esticou o braço direito, abriu a palma de sua mão, virando-a para baixo, e fez a mesa sumir.
   Chegamos, então, à frente dos três caminhos. Cabia a minha a decisão de qual percorrer.
   - No início, apenas dois são seguros. Pense bem, concentre-se. Tente usar seu poder, esvazie sua mente e procure – disse George.
   Fechei meus olhos e interrompi meus pensamentos, à procura de qualquer dica que me levasse à saída correta. Ouvi algumas estranhas vozes, as quais não conhecia, falando um idioma diferente. Quando abri os olhos, vi um curioso animal, que flutuava e rastejava no ar. Era branco, translúcido. Perguntei a George se ele via tal criatura, ele apenas acenou com a cabeça, negando. Assim, resolvi segui-la. Ela havia entrado no segundo caminho, acima. Ao passar por este, a criatura sumiu.
   - E então, conseguiu usar seu poder?
   - Não sei ao certo, mas creio que sim. Ouvi vozes, falando uma língua diferente da nossa, entretanto, consegui as entender perfeitamente. Além da estranha criatura, que se assemelhava aos espíritos que vi em meus livros.
   - Estas vozes são dos seres humanos, habitantes da superfície. E, tal criatura, é seu familiar – George esclareceu.
   - Seres humanos? Familiar? – Estava confusa. Não sabia o que eram tais coisas.
   - Você saberá no devido tempo.
   Continuamos nosso percurso, até que nos deparamos com quatro saídas. Não consegui usar meu poder, senti-me fraca e me ajoelhei.
   - Tudo bem, Vaughan? Quer parar para descansar? – Sugeriu.
   - Não, temos que sair daqui o quanto antes – levantei-me.
   - Então lhe darei uma dica, para não gastar energia espiritual. Você só deve usar isso em momentos críticos, pois é extremamente arriscado.
   - E o que tenho que fazer? – Perguntei, ansiosa.
   - Assobie.
   - Assobiar? Como algo tão simples vai me tirar daqui?
   - Quando assobiar, o túnel produzirá o eco. Você deve seguir o som dele. Onde o eco não se propagar, é o lugar em que há uma armadilha. Mas, cuidado, pois nem sempre dá certo.
   Tentei assobiar, mas estava tão fraca, que mesmo isso não conseguia fazer. Pedi a George que ele assobiasse, entretanto, o imprestável nada fez, alegando que eu deveria sair com minhas próprias forças, sem depender de sua ajuda. Não sabia se aquilo era um treinamento, ou uma fuga do Submundo. Reuni minhas últimas forças e, quase sem fôlego, assobiei. O som ecoou pelas paredes, até ir ao encontro das passagens. Duas delas transmitiram o som adiante, porém, uma delas apenas o abafou. Tentei usar novamente meu poder para escolher um dos caminhos, contudo, minha visão ficou turva. Minhas pernas, bambas, fizeram-me cair debruçada. Antes de fechar os olhos, pude ver os passos de George em minha direção.
   Acordei, novamente, nos braços de George. Desta vez, havia uma estranha linha, saindo de sua veia radial, em seu pulso, até a minha. Aos poucos, minha força estava sendo restaurada, sentia-me rejuvenescida. Quando olhou para mim, George rapidamente colocou-me no chão e cortou a linha.
   - Como você está? – Ele perguntou, colocando sua mão esquerda em minha testa, para medir minha temperatura. – A febre, ao menos, abaixou.
   - Estou bem, só um pouco confusa. Quando estava dormindo, tive um sonho. Estava tudo escuro, até que, de repente, você apareceu dizendo que isso era preciso, que eu deveria lhe esquecer – tirei sua mão de minha testa. – Já nos conhecemos antes, quero dizer, anos atrás?
   - Você descobrirá no devido tempo.
   Isso quer dizer que sim. Agora, tenho apenas que fazê-lo estar numa situação onde ele tenha que me revelar tudo. Estávamos em frente à mais três passagens. Eu estava curiosa para saber que tipo de armadilha apareceria, por isso, resolvi errar o caminho de propósito.
   - Vaughan, cuidado! – George correu e me puxou, desviou-me de um forte jato de fogo. – Já lhe disse para esvaziar a mente, antes de decidir!
   Um animal adventício surgiu, descendo lentamente, a rampa do terceiro caminho. Estava escuro, no entanto, com o fogo saindo da crista em sua cabeça, pudemos vê-lo. Devia ter uns três metros de altura, era laranja. Parecia uma espécie de camaleão mutante. Seus dentes, afiados, reluziam uma cor amarelada, como vestígios de sangue. Sangue de animais – Deduzi. – Suas orelhas eram desproporcionais; uma pontuda e larga, outra ondulada e estirada. Sua barriga era lisa e amarelada, enquanto todo o resto de seu corpo era impregnado com pelos de cor laranja. Seus olhos resumiam-se a pequenos riscos em sua face, enquanto seu nariz possuía um estranho órgão verde na ponta, era um triângulo ondulado, que parecia detectar nossos movimentos.
   George deu um passo para trás, o que foi suficiente para o animal – o qual, Ricky chamou de Minutear – saltar em sua direção, abrindo a boca, pretendendo abocanhá-lo. George levantou sua mão direita, e fez com que uma grande espada surgisse. Sua lâmina era feita de aço ormitano, seu cabo estava enrolado por uma faixa, que mexia a cada vez que ele pressionava o cabo. George a cravou na boca do animal, fazendo-o recuar com a espada cravada em seu palato. De novo, ele avançou, mas George fez um movimento com as mãos e o crânio do Minutear explodiu, e a espada – que estava agora, sem a faixa, mostrando uma pele escamosa, roxa – rodopiou até sua mão.
   - Temos que correr. Esse não é o único Minutear da passagem! – Gritou George, puxando-me para o segundo caminho.
   - Não, Ricky! Olhe lá, há dois Minutears lá dentro e mais um na primeira passagem. O que está havendo? Todas são armadilhas?
   - Parece que um erro pode, realmente – enfatizou –, nos custar a vida. Não saia de perto de mim. Vou lhe proteger.
   Para meu azar, outro Minutear apareceu pelas minhas costas e, sorrateiramente, girou, puxando-me para perto com sua cauda. Foi um ataque silencioso, por isso, George só notou quando estava cercado por três Minutears. Ele começou a conjurar um estranho feitiço, mas logo parou quando viu o Minutear aproximando sua boca de mim.
   - Não há tempo de conjurar um feitiço de proteção, tenho que fazer alguma coisa antes que o desgraçado ataque Vaughan – pensou George.

Arac sarmandie medrac rouf salaramandie
Amand moutrez minatrs corporus!
Ilumination fisical![1]
  
   George foi teletransportado, como um flash de luz, para a minha frente, no exato momento em que o Minutear reuniu uma grande chama em sua boca para a lançar em mim. Ele rapidamente acionou uma barreira, que pôde impedir parte do ataque. A barreira estava rachando, quando George começou a se deteriorar.
   - O que está acontecendo contigo? – Perguntei.
   - O feitiço que usei agora, é magia negra, ou seja, proibido. Essa é a punição de quem usa magia negra – George começou a lacrimejar. – Chegou a hora de você saber tudo. Apenas feche seus olhos e durma.
   No momento em que ele disse para eu dormir, minha visão ficou turva e caí no chão. Um forte clarão, acompanhado de um súbito estrondo, foram minha última percepção do lugar.




[1] Feitiço proibido do OrmitWay (Livro de Feitiços da Lua da raça Ormit)



Espero que tenham gostado do capítulo. Não se esqueçam de comentar, curtir e compartilhar!

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