Livro de Resenhas | Veio ler? Não se contenha

sábado, 11 de julho de 2015

O Renascer do Outono - II - Compunção

Como prometido, mais um capítulo do livro.
Se não leram os anteriores, cliquem aqui para ler o Prólogo, ou aqui para ler o Capítulo I.



Capítulo II
 Compunção


Foi naquele fatídico dia, que tiveram início nossas dores e aflições. Ainda me lembro dos gritos histéricos de Christopher e do choro de Victor, ao verem Olívia distendida, naquele estado lamentável: suja, ensanguentada, com uma feição horripilante, tendo a carne dilacerada por famintos urubus.
   - Não, mãe! Volte, mamãe! - Gritava Victor, horrorizado com a visão à sua frente.
   - Quem fez isso? Apareça, desgraçado! - Bradava Chris, olhando ao redor, procurando o culpado.

Algumas horas antes...
... meu tio havia saído para caçar e pediu que tia Olívia ficasse com Victor. Porém, ela pretendia ir à festa que teria no Centro, colocando, rapidamente, Victor para dormir, desfrutando da chance para ir à festa, mesmo sozinha, àquela hora da noite. Ao menos foi a conclusão que tiramos quando chegamos em casa e não vimos Dave ou Olívia.
   Estava com meu pai, num pequeno mercado da cidade, comprando vegetais para preparar o afamado guisado de carne com legumes do meu tio, que, por orgulho, foi chamado "Sopa M", sendo M de máster. Esta "sopa" costumava lhe dar boa sorte, e ele nunca havia saído para caçar sem ao menos comer um prato dela. Mas nesse dia foi diferente, demoramos demais para chegar em casa e ele já havia partido.
   - Raven, procure seu tio, rápido! Ele não comeu a sopa, temos que torcer para que ele ainda esteja por perto, ou algo terrível pode acontecer - disse Chris, nervoso, correndo até a cozinha para dar início ao guisado.
   - Estou indo pai! - Corri o mais rápido que pude, na direção do bosque.
   Adentrei a floresta, indo cada vez mais ao fundo, até ouvir um barulho. Pareceu-me o som de um disparo. Meu tio deve estar perto, já deve ter começado a caçar.  Já sem fôlego, dentre as árvores, o avistei em meio ao "bosque amaldiçoado", como era chamado por meu pai, parado e com sua espingarda largada no chão. Em sua frente, estava um animal enorme, jamais havia visto tamanho bicho em minha vida.
   - Tio! Vamos para casa, meu pai está lhe chamando para comer o guisado. Vejo que com a carne que conseguiu, poderemos fazer um prato para cada um de nossos vizinhos e ainda sobrará para a semana que vem! - Gritei para meu tio, aproximando-me.
   - Volte, Raven! Diga ao seu pai que aquilo - enfatizou a palavra "aquilo" - aconteceu novamente. Peça para ele não vir, ou o próximo acabará sendo ele - disse Dave, com uma voz trêmula.
   - Mas... tio, meu pai está... - Fui rapidamente interrompido com os berros de Dave: Vai agora moleque! Quer morrer? E, com medo, voltei à passos ligeiros para casa.
   Quando cheguei à casa de Dave, Victor acordou e não estava se sentindo nada bem.
   - Onde está a minha mãe? - Perguntou Victor, num tom cansado. 
   - Ela deve ter saído, estava falando o dia inteiro sobre a festa que teria na cidade – tentei o acalmar. 
   - Não! Ela não está lá! Ela está com o papai! Eu os vi... no… bosque maldito - sussurrou, lembrando que seu pai o disse para jamais pronunciar tais palavras.
   Mesmo falando baixo, Victor não conseguiu impedir meu pai de ouvir. Ele saiu da cozinha aos berros.
   - Mas o quê? O que você disse sobre o Bosque Maldito? - Chris levantou, agressivamente, Victor da cama, puxando-lhe pela camisa.
   - Não, não me machuque! Perdoe-me! - Victor pediu. - Não sei que lugar é esse, mas ouvi meu pai falando sobre isso em um de meus sonhos, ouvi também que eu sou seu herdeiro - disse, mais calmo.
   - Isso não pode acontecer, não agora! - Gritou Chris, saindo de casa às pressas, correndo pela floresta, até o Bosque Maldito.
   - Não vá, pai! Meu tio disse que se o senhor fosse, seria o próximo! Volte! - Gritei, tentando pará-lo, contudo, em vão. Por isso, corri desesperadamente ao seu encontro.
   Depois de tanto correr, acabei avistando meu pai. Tenho um mal pressentimento sobre isso, melhor me esconder atrás de algum arbusto - pensei. Sem que percebêssemos, meu primo nos seguiu e, ao chegar onde meu pai e eu estávamos, entrou num estado de choque. Victor olhou para o bosque, encontrou a espingarda de seu pai e, ao lado, um enorme corpo. Quanto mais chegava perto, mais sentia medo. Ele suspirou fortemente, sua respiração estava trêmula e ofegante, já pensando no pior, finalmente percebeu que, realmente, o que ele mais temia, havia se tornado realidade.
   - Mamãe! Acorda mãe! O que houve com você? Tá saindo tinta vermelha daqui! - Apontou para o peito de Olívia. - Onde está o papai? Responde, por favor, mamãe! Acorda, acorda! - Gritou Victor.
   Meu pai berrou, procurando pelo culpado, até que viu a espingarda de seu irmão. A partir daí, soube do que se tratava. 

   Chris chegou perto de Victor para lhe consolar.
   - Vamos para casa, Victor, não se esqueça do que viu aqui. Um dia, há de matar o culpado, com suas próprias mãos, mas até lá, sua mãe estará sempre aqui - apontou para o peito de Victor, do lado esquerdo. - Vamos voltar.
   - Mas, mas... quem vai me contar histórias quando for dormir? Quem vai afofar meu travesseiro quando eu for deitar? Quem vai brincar comigo quando eu estiver sozinho? Quem... - Victor parou de falar, começou a olhar para o vazio em sua frente, encarando friamente algo.
   - Victor, Victor! Vamos, não é hora de ficar parado, temos que sair daqui! Ah não, Dave! Até seu filho tem de sofrer com isso - pensou Chris, relembrando um doloroso passado. - Ray! Venha aqui, rápido! - Gritou.
   Rapidamente saí detrás do arbusto.
   - Como soube que eu estava lá? - Perplexo com a cena, por um segundo, perdi completamente o controle dos meus sentidos e deixei de ouvir parte do que meu pai havia dito. - Pode repetir, pai? Não ouvi o que o senhor disse, mas antes, o que está acontecendo aqui? - Indaguei, traumatizado com o que via.
   - Não há tempo para explicar agora, apenas pegue o seu primo e corra para casa de Dave! Rápido, sem moleza! - Gritou Chris, enquanto ia atrás do corpo de Olívia, para enterrá-lo, voltando pouco tempo depois de nós.
   Victor estava pálido, com os olhos completamente negros. Eu não sabia o que fazer, até que a solução me apareceu repentinamente com uma súbita queda. Foi então que Victor recobrou os sentidos.
   - Onde estou? Cadê a mamãe? Ah, meu... Deus... mãe! - Gritou Victor e, para evitar nosso atraso, soquei-o, fazendo-o desmaiar.
   Chegando em casa, percebemos que Dave ainda não havia voltado da caça. Por isso, Victor decidiu sair e o procurar. Sabendo que Victor tentaria procurar seu pai, Chris se adiantou e ficou de guarda na porta, para que ninguém saísse, ou mesmo entrasse. Sabia que se Victor saísse, tudo seria perdido.
   - Onde pensa que vai, mocinho? - Perguntou Chris, fazendo a mesma cara sínica de sempre.
   - Vou procurar meu pai! Preciso o ver, tenho que ficar com ele! - Retrucou Victor.
   - Victor, seu pai está caçando, sabe que nesses momentos ele não gosta de companhia. Ele vai acabar lhe confundindo com um animal qualquer e atirar em você. Como fez com sua mãe - pensou.
   - Tudo bem, mas se dentro de uma hora ele não aparecer, ninguém vai me impedir de ir atrás dele! - Victor gritou, virando as costas.
   - Ok, ok. Agora pode ir para o seu quarto, ou, seja lá para onde você queira ir, mas não saia de casa - disse Chris.
   - Depois de toda aquela tensão, Chris se deitou no sofá, ressentido, sabendo que tudo o que acontecera era por culpa sua, por um juramente que fizera com seu irmão, Dave, no Bosque Maldito. Ainda me lembro das palavras... "Meu sangue vos darei e minha vida preencherei. Meu herdeiro terá seu valor, trará paz e harmonia, o segundo trará desgraça e será amaldiçoado. Minha vida é sua vida, hoje serei um novo ser, possuído pelas divindades e protegido por meu mestre."

   - E pensar que foi minha a culpa. O juramento que ambos fizemos, para um bem maior, acabou trazendo a desgraça para o segundo herdeiro... Victor.



E acaba por aqui mais um capítulo! Valorizo muito a opinião de vocês, portanto, comentem, cliquem no +1 e compartilhem com seus amigos!

Cliquem aqui para ler o capítulo III

Recado do Garoto do Blog:
Pecadores, a tabacuda agora virou freira e o povo está achando que ser feio é moda, o Garoto do Blog também vai postar seu virtupério (livro) 
Toda a sexta feira nesta imoralidade.


Um comentário:

  1. Está com um enredo muito muito muito bom, e com uma escrita adorável!!!
    A-M-E-I

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