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sábado, 25 de julho de 2015

A Família Maldita - Capitulo 1 - Lembranças desgastantes de um passado sombrio


   Enquanto o último resquício de luz solar desaparecia do universo, Max encarava seu filho, Alex, e se lembrava de um passado bastante tétrico, uma parte de sua vida que ele se esforçava para esquecer, no entanto, aqueles meses execráveis entravam e impregnavam suas lembranças, trazendo uma saudade de ínfima espécie, por todas as pessoas que, antes de morrer, sofreram na pele toda a desgraça e o sofrimento que um mundo paralelo, entrelaçado com o amor proibido, trouxera em suas vidas.
   Lágrimas acumularam em seus olhos ao ver o anel em seu dedo, objeto que fora de seu pai, mas ele se recusou a chorar num dia festivo, era o aniversário de seu filho e de seu irmão, que por coincidência nasceram no mesmo dia, e por isso nada estragaria seu humor. Alex, seu filho completava sete anos, e seu irmão, Abel, vinte e dois. Para que tal melancolia se esvaísse, Max se concentrou na música alta que tocava, no cenário da sala, em sua esposa. Contudo, foi com um grande suspiro de pesar que ele percebeu que tal distração pouco funcionava.
   Assim, ele centrou seu olhar em Abel e, repentinamente, lembrou-se de tudo o que ele passou durante a infância. Max sempre o considerou e tratou como um filho. Seu irmão, por sua vez, o considerava um pai e ainda hoje, tais sentimentos, de ambos, permanecem, além de Abel acarretar em seu peito um grande agradecimento por tudo o que Max fizera para que a sua família sobrevivesse.
   Abel, como que pressentindo o estado de espírito de Max, foi ao seu encontro, com a intenção de iluminar um pouco seu semblante. Mas o cordão em seu pescoço que antes pertencia a sua mãe estragava seus esforços.
   - O que foi mano, aconteceu alguma coisa? – Disse Abel com uma entonação alta, devido a música, enquanto segurava o ombro de Max, carinhosamente. 
   - Só me lembrando de épocas... sofridas. Saudades de todas as pessoas que estiveram ao nosso lado, que tentaram nos ajudar e somente por isso morreram. E recordando com tristeza que, ao iniciarem as mortes, nunca mais tivemos uma só festa como essa. Eu juro que tentei dar a você e a Nicole tudo o que eu tinha. Houve dias que não comia nada para que eu pudesse vê-los satisfeitos, porém, minha única falha foi nunca conseguir fazer vocês ficarem felizes.
   - Já disse para você deixar de se culpar, mas que merda! Quantas vezes terei que dizer que não foi sua culpa? – Abel suspirou, percebendo que Max não se preocupava com o passado, mas com o que poderia acontecer no futuro. Com um sentimento de comiseração para com seu irmão, Abel manteve a calma e disse, sinceramente. - Sua presença era a única coisa que me fazia feliz, claro, os livros também, mas você era a minha válvula de escape, podia estar o pior dia do mundo que você conseguia alguma comida para nós, além de sempre estar sorrindo e brincando. Você fez tudo o que pôde para nos fazer felizes e, na minha concepção, sempre conseguiu. – Abel o abraçou do mesmo jeito que o abraçava quando tinha sete anos, dessa vez Max não conseguiu esconder seus sentimentos e deixou a tristeza transbordar em seus olhos. – Saiba que você sempre será o meu pai, o melhor pai do mundo.
   - E você sempre será meu filho, maninho! – Max enxugou bruscamente os olhos e beijou a testa de Abel, como sempre fizera quando este era criança, um gesto que dizia: tudo vai ficar bem. 
    E sempre foi verdade. No final, tudo ficou bem. Embora nem eu acreditasse em minhas palavras de refrigério – pensou Max.
   - Agora que você saiu dessa vibe de bicha culpada, posso dizer de novo que devemos revelar tudo para nossos filhos. Eu sei que você já repetiu enésimas vezes que não, pois eles são muito novos e que não têm a maldição. Mas eu repito, não vamos cometer o mesmo erro de nosso pai. Se soubéssemos de tudo, talvez não teríamos passado por tanta coisa.
   - A diferença é que nós tínhamos a maldição, nossos filhos não! Eu também concordo que precisamos revelar tais coisas a eles, mas esperemos que eles completem ao menos dez anos. Seu filho tem cinco anos... cinco anos! E o meu tem sete, sabe o impacto que essa ‘história’ pode causar na vida deles?
   - Acredite, – A voz de Alex fez enregelar o sangue de Max – eu sou forte o suficiente para aguentar qualquer coisa, vejam só! – Alex tentou enrijecer o braço a fim de mostrar seus músculos.
   Sobressaltados, os irmãos se afastaram enquanto encaravam Alex fazendo - agora - uma expressão séria, ordenando por uma revelação. Max pensava freneticamente em algo para mudar de assunto, pois não queria arruinar o dia perfeito de seu filho.
   - O que você escutou Mano-Binho? – Disse Abel de uma forma carinhosa.
   Abel sempre gostara de falar com gírias e adepto de criar as suas próprias. “Binho” é um apelido carinhoso para sobrinho, e “Mano”, por Abel considerar Max seu pai, Alex, consequentemente “vira” seu “irmão”. Um jeito complicado de se comunicar!
   - Escutei tudo! Quero saber! Pode ir contando. – Exigiu Alex.
   - Não é uma história para crianças. – Disse Max para o filho.
   - Qual foi mano? Ele tem a mesma idade que eu tive quando passei por tudo aquilo! – Disse Abel repreendendo seu irmão.
   - Passou pelo o quê? Papai, por favor! Eu vou morrer se não souber, pelo amor de Deus! Tenha compaixão. É meu aniversário – Alex fez um beicinho, que o fazia ficar aparatosamente triste, ele sabia que conseguiria quase tudo com tal ato.
   - Depois! – Max tentou escapar, mas sabia que seu filho seria irredutível. Quando queria alguma coisa, Alex persistia até conseguir.
   Alex lhe lançou um olhar feroz. Max, sem alternativa, se ajoelhou e o olhou bem nos seus olhos.
   - Eu prometo que amanhã lhe contarei tudo. Agora você precisa se divertir em sua tão aguardada festa. Estou dando a minha palavra que amanhã lhe contarei a história.
   - Meu tio-mano estará aqui para contar a história junto com você? – Alex olhou para Abel (seu tio-mano), embora a pergunta fosse destinada para Max, seu pai. – Sabe? Meu pai pode amenizar as coisas.
   - Se Abel quiser ele será muito bem-vindo! – Disse Max olhando para Abel, ignorando o comentário de seu filho.
   - Se eu puder trazer o primo-binho dele! – Abel se referia a seu filho Eduardo, o primo de Alex, que tinha cinco anos de idade.
   - Então está certo; amanhã de manhã começaremos a contar a história! Agora vá se divertir! – Max disse, olhando nos olhos de seu filho, para que ele pudesse ter a certeza de que a verdade estava sendo proferida. 
   - Obrigado, pai! – Max se surpreendeu com a inesperada atitude de afeto de seu filho, que com um grande sorriso, estendeu os braços e o abraçou.
     Alex, sentindo confiança, se afastou de seu pai e demonstrou a mesma ternura para com seu tio-mano. E fora se divertir na festa junto com seus amigos.
   - A casa caiu pra tu, maninho! – Brincou Abel.
   - Você devia parar com essas malditas gírias! – Max gargalhou como se o futuro não lhe conviesse, mas no fundo ele se encontrava temeroso de ainda não estar preparado para relembrar seu passado sombrio, ou pior, seu filho não ser capaz de escutar.
   Max. tentando se distrair, encarou o espírito da felicidade, rodeando o corpo de Alex, seu filho, que tinha um rosto angelical, os mesmos olhos azuis da mãe e o sinal da benção e proteção estampando seus cabelos lisos e ruivos grudados em sua testa suada.
   - Tirando o cabelo e os olhos ele parece comigo quando criança – Proferiu Max para Abel, sem nem mesmo saber por que disse. Talvez porque não tivesse nada a dizer.
   - Vendo suas fotos é bem verdade, contudo, se o seu cabelo fosse laranja, igual ao dele, talvez não tivéssemos passado por tudo... aquilo... - Vendo Abel, que ele havia cometido uma gafe, visto que seu irmão estava pesaroso, decidiu de última hora mostrar o lado bom do acontecimento passado. - Com certeza não teríamos conhecido nossas esposas – disse Abel.
   - Com certeza muita gente estaria viva hoje – disse Max lacrimejando.

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